Instituição de ensino:

Universidade de Brasília (UnB)

Programa:

História

Autor:

Luis Cláudio Vilafañe Gomes Santos

Titulação:

Doutorado

Ano de defesa:

2002

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Resumo:

 O presente trabalho aborda a política do Império brasileiro frente aos sucessivos encontros interamericanos realizados no século XIX. No decorrer daquele século, como resultado de iniciativas que obedeciam as causas imediatas sempre distintas, foram realizados vários congressos interamericanos: no Panamá (1826), em Lima (1847/148), em Santiago (1856), em Washington (1856), pela segunda vez em Lima (1864-1865) e novamente em Washington (1889/1890). O Brasil participou apenas do último desses encontros, a Primeira Conferência Internacional americana, convocada pelos Estados Unidos sob a bandeira do pan-americanismo. O estudo da documentação da Chancelaria brasileira e das fontes secundárias relevantes revela uma política consistente no sentido da desconfiança e rejeição dessas iniciativas por parte do Império, coerência que contrasta com as grandes variações sofridas nas políticas e atitudes do Império frente a outros temas importantes de sua agenda internacional: comércio, limites, navegação dos rios internacionais e tráfico de escravos. Em todos estes casos, alcançou-se uma posição consistente na segunda metade do século. Todavia, a política em relação aos congressos interamericanos manteve-se praticamente inalterada desde 1826 por ocasião da primeira dessas iniciativas: resistência e desconfiança de que os objetivos daqueles conclaves pudessem incluir uma frente comum dos países hispânicos contra os interesses brasileiros, contrabalançados pelo receio de ver-se excluído caso essas iniciativas alcançassem maior sucesso. A explicação oferecida para a excepcional firmeza e consistência da política americanista do Império está na natureza da legitimação do Estado brasileiro em contraste com seus vizinhos americanos. A adoção da monarquia condicionou marcantemente a política externa do Estado brasileiro no sentido de temer e repudiar as iniciativas interamericanas. O nacionalismo passou à condição de princípio legitimador do Estado apenas no decorrer do século XIX, dando origem à fórmula desde então hegemônica do Estado-Nação. Ao tentar manter a legitimidade dinástico-religiosa como princípio legitimador de seu Estado, o Brasil diferenciou-se decisivamente de seus vizinhos americanos, que passaram para o Império o "outro" irreconciliável. A construção da identidade das repúblicas americanas fez-se em grande parte a partir da idéia de ruptura com o Antigo Regime e, metaforicamente, com a Europa. Essa noção de ruptura entre o Novo e o Velho Mundo, entre América e Europa, impregnava as iniciativas interamericanas, tornando muito difícil ao Império associar-se a elas sem pôr em risco as bases de sua própria legitimidade.

Orientador:

Albene Miriam Ferreira de Menezes

Palavras-chave:

Brasil Império; Interamericanismo