Instituição de ensino: |
Universidade de São Paulo (USP) |
Programa: |
Sociologia |
Autor: |
João Dantas Pereira |
Titulação: |
Doutorado |
Ano de defesa: |
1999 |
Link: |
Não disponível |
Resumo: |
Pontas e Ponteiros na Guiné-Bissau é uma abordagem sociológica sobre um grupo específico do setor agrícola e agrário, cujo percurso e intervenção, marcou sua presença de forma significativa na cena política recente guineense. Ao longo deste estudo, constatou-se que os ponteiros fazem parte de um conjunto social com uma estrutura bem definida e seus comportamentos são identificáveis através das diferentes fases da sua trajetória desde as primeiras pontas instaladas no século XIX, junto às cabeceiras do rio Grande de Buba, no sul da Guiné, até às dos rios Geba e Farim no Leste e Norte, com destaque para o período do ciclo da mancarra na Guiné. Os resultados assinalaram, ainda, a existência de uma racionalidade econômica que não deixa dúvida de que há uma capacidade e dinamismo, tipicamente africanos, que dão fortes indícios de serem integráveis nas formas modernas da economia, que se orientam essencialmente pelo paradigma normativo dominante, ou seja, a economia de mercado. Os ponteiros fazem parte de uma elite emergente na Guiné-Bissau, cuja presença fez-se sentir com maior evidência nos finais dos anos 80, na seqüência da implementação do Programa de Ajustamento Estrutural - PAE. Do ponto de vista sociológico, as atividades de pontas causaram um certo impacto não só na organização social dos agricultores tradicionais guineenses, ao introduzir na dieta alimentar guineense não só produtos até então desconhecidos (cana sacarina e respectiva produção da aguardente, mandioca, feijões, milho, etc.), mas também ao estabelecer novas estratégias na articulação entre os dois tipos de agricultura predominantes na Guiné-Bissau: o tradicional, cuja mão-de-obra é recrutada essencialmente junto às famílias sob autoridade de um chefe tradicional e o moderno, o dos ponteiros, que tem recorrido a mobilização da mão-de-obra assalariada disponível nos principais centros urbanos. Os ponteiros também introduziram, no setor da produção agrícola, uma certa mecanização através da utilização de tratores, moto-bombas e, a noção da produção do excedente, tendo em vista o mercado, mesmo que essas inovações tenham sido relativas. A produção do excedente gera acumulação, condição essencial para a passagem às formas capitalistas modernas da produção. Os dois tipos de agricultura existentes na Guiné-Bissau (o tradicional e o dos ponteiros) distinguem-se, ainda, pelo fato do tradicional produzir prioritariamente para o autoconsumo e o dos ponteiros para o mercado interno e para a exportação. O estudo serviu-se de um quadro teórico construído segundo uma perspectiva assente na teoria das elites, recorrendo-se, sempre que fosse necessário, a outros recursos teórico-metodológicos disponíveis no campo da sociologia. No âmbito deste quadro teórico, fez-se algumas aproximações sobre as construções existentes na teoria das elites, tomando como parâmetro estudos realizados nos dois períodos distintos da historiografia guineense: o período colonial e o período pós-independência. Constatou-se que a estrutura dos ponteiros é heterogênea e multi-dimensional. Num futuro próximo, suas intervenções na sociedade guineense poderão dar origem a um conjunto de relações de caráter essencialmente hierárquico e desigual. Seja como for, este estudo sobre Pontas e Pontas na Guiné-Bissau não é aqui entendido como um fim em si mesmo, pelo contrário, abriu novas perspectivas para investigações futuras. Assim sendo, resta perguntar: terão sido as pontas e ponteiros uma miragem na sociedade guineense? Ou tratou-se de um grupo que existiu no passado, que ainda existe ou que existirá no futuro? Encontram-se, ao longo dos quatro capítulos que compõem esta tese, algumas respostas a estas e outras questões que serviram de orientação à investigação realizada sobre o assunto. |
Orientador: |
Fernando Augusto Albuquerque Mourão |
Palavras-chave: |
Guiné Bissau; África |