Instituição de ensino: |
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) |
Programa: |
Economia |
Autor: |
Beatriz Macchione Saes |
Titulação: |
Doutor |
Ano de defesa: |
2017 |
Link: |
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Resumo: |
O presente trabalho analisa as especificidades do comércio ecologicamente desigual no Século XXI a partir da observação do metabolismo social do minério de ferro e da inserção brasileira neste mercado. A hipótese levantada é que existe um comércio ecologicamente desigual Norte-Sul, que se reflete em uma transferência material assimétrica aos países do Norte, cuja dinâmica é importante para compreender as características do recente boom das commodities e as implicações sobre os países exportadores de produtos primários. Primeiramente, mostramos como as evidências de desmaterialização das economias desenvolvidas são superestimadas pelas análises que desconsideram a crescente fragmentação internacional da produção nas últimas décadas. Na medida em que as economias avançadas especializam-se em etapas localizadas nas duas pontas das cadeias de produção, baseadas em ativos intangíveis (pesquisa, desenho, marketing etc.), o peso material de suas economias se reduz em relação ao PIB, mas a captura da maior parcela do valor adicionado das cadeias mantém padrões de consumo elevados baseados em estoques materiais “ocultos” em outros países. Em segundo lugar, discutimos como a crescente transnacionalização do espaço asiático, decorrente desta fragmentação internacional da produção, promoveu uma ampliação sem precedentes da demanda por recursos naturais, alimentando o ciclo recente de valorização dos preços das commodities. No setor de minério de ferro, a despeito de sua modernização e de maiores possibilidades de captação de financiamento, a rigidez da oferta amplificou o aumento dos preços, possibilitando a entrada de produtores de alto custo voltados à extração de minério de ferro de baixa qualidade. No Brasil, isso significou a expansão da fronteira minerária de ferro para regiões de reconhecida importância ambiental. A dinâmica perversa por trás do boom de preços seria evidenciada com a reversão destes. A despeito das intervenções irreversíveis no meio ambiente e o comprometimento do modo de vida de comunidades inteiras, a viabilidade financeira dos empreendimentos de alto custo na fronteira minerária viu-se comprometida. A decorrente desvalorização dos ativos de tais empreendimentos, com frequência adquiridos por outras empresas e reconfigurados para operar mesmo com uma rentabilidade muito baixa, agravaria ainda mais o excesso de oferta no setor, pressionando negativamente os preços e amplificando a transferência de recursos materiais ao exterior. Por fim, descrevemos como as estratégias de desenvolvimento adotadas no Brasil durante o boom das commodities refletiram-se no setor minerário, contribuindo para impulsionar um modelo “neoextrativista” no país. Em particular, discutimos a regulamentação do setor e o modelo de desenvolvimento presente na proposta do novo código da mineração, assim como, os limites do nacionalismo dos recursos naturais como resposta à inserção internacional subordinada do país. O modelo “neoextrativista” foi evidenciado pelas disputas em torno da legislação ambiental brasileira, em que prevaleceu o “interesse nacional” como defendido pelo setor minerário, a despeito de outros interesses e valores concorrentes à mineração. Assim, a ausência de visões e modelos de desenvolvimento alternativos contribuiu para reforçar o caráter estrutural do comércio ecologicamente desigual Norte-Sul. |
Orientador: |
Ademar Ribeiro Romeiro |
Palavras-chave: |
minério de ferro, comércio internacional, economia – Brasil, economia ecológica |