Instituição de ensino: |
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) |
Programa: |
Ciência Política |
Autor: |
Arthur Leandro Alves Da Silva |
Titulação: |
Doutorado |
Ano de defesa: |
2013 |
Link: |
Não disponível |
Resumo: |
“Seria possível à mesma pessoa banhar-se duas vezes no mesmo rio?” teria se perguntado o filósofo Heráclito de Éfeso, antes de registrar a sentença que definiu um modo específico de se pensar a Natureza e a História. Sua conhecida negativa, baseada na ideia de que a realidade é movimento, e flui, e que o correr das águas verte o rio em outro rio, e que o correr do tempo faz daquela pessoa outra pessoa, pode ser considerada a centelha heurística deste trabalho. Como voltam ao seu lugar de origem aqueles que um dia partiram? Diz o poema de Homero que Ulisses teria voltado íntegro, em corpo e espírito, aos braços de sua amada Penélope, não obstante os vinte anos que consumiram a guerra e a viagem de volta. Voltariam também iguais ao lugar de origem aqueles que, tendo saído da periferia em direção à metrópole, e tendo lá demorado o tempo que demandaram as suas “guerras particulares”, decidem instalar-se novamente em meio às margens ancestrais, que fatalmente hão agora de guiar o curso de outras águas? Eis a pergunta fundamental que motiva esta pesquisa. Inscrevendo-se no rol dos trabalhos que tratam de mudança política, o documento se estrutura em cinco seções destinadas a analisar os efeitos da migração de retorno desde o Estado de São Paulo para o Nordeste do Brasil, com ênfase especial na experiência de cidadãos brasileiros que, sendo nordestinos de nascimento e de formação, habitaram na Região Metropolitana da capital paulista durante, pelo menos, quatro anos ininterruptos em algum momento entre 1991 e 2010, e que depois fizeram o caminho de volta para a sua região de origem. A principal hipótese testada no trabalho é que, controladas variáveis intervenientes, o fato de haverem vivido no principal centro urbano e industrial do Hemisfério Meridional implica mudança na percepção política desses cidadãos. Vendo diferentemente o mundo ao seu redor e estando mais informados, essas pessoas tende a manifestar, quando do seu retorno, atitudes diferentes em relação aos dois outros grupos de referência, quais sejam: os nordestinos que sempre viveram na Região Nordeste, e os nordestinos que vivem em São Paulo. Para verificar a extensão e o sentido dessa mudança foram realizadas sessenta e quatro entrevistas em profundidade com uma amostra intencional de indivíduos pertencentes aos três grupos de referência, respeitada a distribuição dos sujeitos de pesquisa conforme sexo, idade, renda, escolaridade, local de moradia e de nascimento, tendo sido ouvidas pessoas oriundas de (ou residentes em), oito estados da federação: além de São Paulo, foram colhidos depoimentos em sete dos nove Estados nordestinos, exceto Sergipe e Maranhão (para os quais não foram encontrados indivíduos que quisessem participar da pesquisa). Além disso, também foi utilizada pesquisa de survey com uma amostra de cento e cinquenta indivíduos originários da mesma população, os quais responderam a um questionário com cento e dez questões adaptado do modelo aplicado pela equipe da Universidade de Campinas, quando da realização do Estudo Eleitoral Brasileiro de 2010, às necessidades e dimensões específicas desta tese. O primeiro dos capítulos do trabalho foi elaborado como resposta a uma indagação da banca de qualificação de tese, a qual se posicionou, crítica e oportunamente, quanto ao risco de incorrência em falácia ecológica ao proceder com inferências que tomam o lugar em que o indivíduo se encontra como variável independente para as condutas por ele manifestas. O segundo capítulo segue com a investigação da relação entre agência individual e contexto da ação, ao proceder com um inventário das teorias que investigam as condicionantes, vicissitudes e efeitos do fenômeno migratório. Grande tributária da Sociologia e da Economia, a análise política da migração ainda é um campo de desenvolvimento embrionário que deve ser amparado pela produção multidisciplinar que a antecedeu, ou que trata de aspectos do fenômeno que lhe são incidentais. O terceiro capítulo propõe um quadro analítico no corpo da Ciência Política para a análise da migração, de modo que a rationale da decisão migratória, bem como suas consequências atitudinais, são tratadas com vagar nesta seção, a qual se propõe a iniciar um debate em favor de uma Teoria Política da Migração. O quarto e último capítulo substantivo dedica-se à exploração de duas possibilidades adstritas ao modo de reinserção do migrante de retorno em seu lugar de origem: o empreendedorismo político – pensado aqui como atributo individual, para o qual o ambiente institucional é fundamentalmente um dado de contexto – e a adaptação atitudinal, pensada não apenas como uma variável etnográfica, mas fundamentalmente como estratégia deliberada, e mais ou menos informada. Desse modo, a imagem de modernização da Região será relativizada e repensada a partir do ponto de vista de sujeitos que experimentaram, em maior ou menor grau, uma das promessas mais distintivas da modernidade no Ocidente, que é o direito de buscar a sua própria felicidade. O quinto capítulo, por fim, apresentará os dados e as técnicas empregadas: o recrutamento por snowball de sujeitos relacionados em redes sociais, os procedimentos de entrevista e coleta de questionários, os testes não-paramétricos para tabelas de contingência, e a construção de mapas visuais por meio de análise de correspondência múltipla (MCA). Os achados empíricos da pesquisa estarão entremeados nas considerações dos capítulos, seja por meio de elementos gráficos, seja pela inserção de fragmentos dos muitos depoimentos, recolhidos em mais de setenta horas de gravação em áudio. |
Orientador: |
Enivaldo Carvalho da Rocha |
Palavras-chave: |
Política; Migração; Brasil |