Instituição de ensino:

Universidade de Brasília (UnB)

Programa:

Estudos Comparados sobre as Américas (Ceppac)

Autor:

Myriam Esther Jimeno Santoyo

Titulação:

Doutorado

Ano de defesa:

2001

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Resumo:

 O objetivo deste estudo é fazer um trabalho comparativo entre o Brasil e a Colômbia sobre uma forma particular de ação violenta, o crime passional (homicídio) contemporâneo. O estudo explora um número limitado de casos selecionados de homicídio nas capitais de cada país através da análise de duas formas discursivas: as narrativas de experiências pessoais (agentes do crime passional) e a dos processos judiciais sobre esse tipo de crimes. As narrativas são tratadas como pontos de entrada a um fenômeno mais amplo, a relação entre a emoção e a violência. O estudo se orienta ao que pode ser chamado de verbalização do "sentimento" e do "pensamento" das pessoas envolvidas nas experiências de homicídio "passional", com o propósito de compreender tanto as representações quanto as relações sociais que se tecem neste tipo de ação violenta. Isto significa pesquisar sobre a forma como entram em jogo no ato criminal as categorias sociais de gênero e posição social e as relações entre cognição e emoção Usei a noção de configuração emotiva como ferramenta que permite trabalhar a tese principal: o crime passional é uma construção cultural que pretende se naturalizar por meio de dispositivos discursivos polimorfos e ambíguos. Esses dispositivos estão presentes nos relatos das experiências pessoais e na interpretação jurídica e seu núcleo é a reiteração da oposição entre a emoção e a razão. A noção de configuração emotiva permite destacar três aspectos: o primeiro, o modelo cultural das chamadas emoções que divide a unidade cognição/emoção em categorias polares; o segundo, a imbricação entre os dispositivos discursivos, as ações e nas relações de força simbólica e real entre os gêneros y o terceiro, a ambigüidade entre a proibição social e normativa sobre o uso da violência e a sua desculpa quando é produto de intensa emoção. O ponto focal é a compreensão da responsabilidade do sujeito (a imputabilidade) como dependente da intervenção da emoção, pois ela modificaria a capacidade para compreender o dano provocado e sua motivação não seria anti-social. Assim, ocorre um processo que se serve do sentimentalismo do amor e a psicologização da mente para desembocar numa punição atenuada. O fato de que sejam na maioria homens, indica que essa ação tem relação com as hierarquias de gênero, em particular, com a construção identitária da masculinidade e a feminidade. No crime passional aparecem associações entre emoções com pensamentos sobre o que é o deve ser o amor, de maneira que a sociedade e o individuo, o público e o privado, a ação e a representação, se encontram associadas e também confrontadas.

Orientador:

Roberto Cardoso de Oliveira

Palavras-chave:

Antropologia das emoções; Crime