Instituição de ensino:

Universidade de Brasília (UnB)

Programa:

Estudos Comparados sobre as Américas (Ceppac)

Autor:

Juliana Amoretti

Titulação:

Doutorado

Ano de defesa:

2010

Link:

 Não disponível

Resumo:

 A presente tese de doutorado, realizada no marco de estudos latinoamericanos, tem como

objetivo a comparação de processos de luta pela terra para analisar possibilidades de

organização do ‗poder político da comunidade‘, mais especificamente de sem terras no Brasil

e de campesinos indígenas na Bolivia, frente à ordem política vigente. A pesquisa foi feita

através da análise do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, no Brasil, e da

Confederación Sindical Única de Trabajadores Campesinos de Bolivia – CSUTCB, buscando

os limites e as potencialidades de organização destes movimentos sociais, aprendendo com

suas semelhanças e diferenças. O trabalho é qualitativo, comparado e interdisciplinar. Foram

entrevistadas 36 pessoas, 15 no Brasil e 21 na Bolívia. Os dados empíricos utilizados foram

entrevistas semi-estruturadas com dirigentes nacionais dos movimentos sociais e outros

informantes, homens e mulheres que acompanharam a luta pela terra em ambos os países,

além de documentos e resoluções dos movimentos sociais, dados secundários e a literatura

produzida sobre o tema. Foi explorado o pensamento latinoamericano, sob a luz de

abordagens anticoloniais e de interpretações marxistas. A comparação enfoca os contextos

históricos específicos do Brasil e da Bolívia, mostrando que aspectos comuns de dependência

e subdesenvolvimento, referentes ao papel da América Latina no desenvolvimento global do

capitalismo, afetam as famílias campesinas em ambos os países. A filosofia política da

libertação, de Enrique Dussel, ofereceu os fundamentos para investigar a potencialidade do

poder político da comunidade no enfrentamento à ordem política vigente. O MST e a

CSUTCB foram estudados em seus distintos repertórios de ação, suas estruturas organizativas

e seus princípios políticos, nos aspectos econômicos, culturais e ecológicos. Entre os

diferentes significados atribuídos à luta pela terra estão: a reforma agrária, a luta da classe

trabalhadora contra o capital, a soberania alimentar, a soberania dos povos, a autonomia

indígena e a concepção sagrada da natureza. A comparação do MST com a CSUTCB mostrou

tensões políticas da luta pela terra, entre a via institucional, a identidade cultural, a defesa da

natureza e a consciência de classe. O resultado da análise dos conflitos sociais vivenciados

por estes movimentos rurais revela que a lógica política hegemônica, aliada ao capital e ao

mercado, apresenta falsas soluções para resolver a questão agrária, os problemas dos sem terra

e dos campesinos indígenas. Muito mais do que a disputa pela terra, o estudo permitiu

identificar a necessidade da luta pela superação das contradições estruturais da sociedade e

pela soberania dos povos.

Orientador:

Sonia Maria Ranincheski

Palavras-chave:

Trabalhadores rurais; Movimentos sociais; Conflito agrária; Brasil; Bolívia