Instituição de ensino:

Instituto Rio Branco (IRBr)

Programa:

Diplomacia

Autor:

Braz da Costa Baracuhy Neto

Titulação:

Mestrado IRBr

Ano de defesa:

2003

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Resumo:

 Até o momento de sua criação, a Liga da Nações foi a mais elaborada tentativa de organizar racionalmente as relações internacionais em uma instituição multilateral. Sua criação significou uma ruptura na política internacional tradicional, tal qual praticada no sistema europeu do século XIX. Com o fim da Grande Guerra, o equilíbrio de poder tornara-se uma expressão odiosa. O Presidente Wilson chegou à Conferência de Paz de Paris em 1919 com seu projeto de uma nova ordem mundial, baseada na transposição dos valores e princípios do liberalismo político para o sistema internacional.

 Com a nova organização internacional que se criava, dois tabuleiros, paralelos e superpostos, passavam a existir no sistema internacional. Acima do tabuleiro geopolítico clássico, onde as potências européias estavam acostumadas a jogar há séculos, surgia nova instância no tabuleiro multilateral. Organização universalista típica do século XX e dos critérios liberais de política internacional, a Liga das Nações foi a expressão do novo jogo multilateral. E a crise do Conselho da Liga de 1926 pode ser vista como um nítido sinal de vida desse tabuleiro multilateral, capaz de influir nas relações geopolíticas do tabuleiro tradicional.

 Nas análises da crise de 1926, prevalece a tendência entre os historiadores em destacar o "fiasco" do Brasil na Liga das Nações. Partindo dessa premissa, variam apenas suas causas. Alguns culpam o Presidente Artur Bernardes, pelo uso da política externa como alucinógeno para a política doméstica; outros atribuem a responsabilidade à França e à Inglaterra, secretamente conspirando contra a Alemanha . O certo é que a ênfase no Governo Bernardes, como catalisador da crise, tem prevalecido. Eugênio Vargas Garcia aponta o caso de "misperception" do Governo brasileiro em suas demandas em Genebra pelo assento permanente no Conselho, buscando elevar o status internacional do País, mas superestimando "as possibilidades de sucesso de sua aspiração". Norma Breda dos Santos, por outro lado, procura corretamente entender a crise a partir da configuração geral da política internacional, inserindo, nesse contexto mais amplo, os aspectos domésticos que caracterizavam a inserção externa do Brasil à época.

 Se é certo que as motivações do Presidente Bernardes - sua personalidade, os constrangimentos domésticos de seu governo -, assim como as posições de seu inexperiente Chanceler, o jornalista Félix Pacheco, tiveram papel nos desenvolvimentos da crise de 1926 e devem ser consideradas nas explicações sobre a política externa do período, a política internacional deve ser o ponto de partida. Somente com a compreensão dos movimentos do equilíbrio de poder e da ordem internacional da época pode-se vislumbrar como as elites de política externa percebiam sua posição no sistema, definiam seus interesses e traçavam suas estratégias.

 De modo incidental no presente estudo, pretende-se trazer contribuição ao debate sobre o suposto "fiasco" da posição brasileira em Genebra - crê-se que, considerando a nova disposição dos tabuleiros do sistema internacional, haja sido, no âmbito da atuação externa de uma Potência Menor, um "vencer ao perder", parafraseando o Presidente Artur Bernardes. Mas não se procura examinar detalhadamente os fatores históricos que condicionaram a posição brasileira - a questão já recebeu tratamento adequado por competentes historiadores. O objetivo central é fornecer, dentro de marcos da Teoria das Relações Internacionais, uma perspectiva da configuração da ordem internacional pós-Versalhes e, a partir dessa configuração e dos processos nos tabuleiros do sistema internacional, examinar a atuação diplomática do Brasil na crise da Liga das Nações de 1926, do ponto de vista da ação externa de uma Potência Menor. Partindo de modelo teórico do Realismo Neoclássico, vislumbra-se a possibilidade de conciliar variáveis sistêmicas e domésticas em modelo explicativo. Procura-se dar importância primária à política internacional do período e, desse ponto de partida, analisar as ações da política externa brasileira.

Orientador:

Everton Vieira Vargas

Palavras-chave:

Liga das Nações; Brasil; História diplomática