Instituição de ensino: |
Instituto Rio Branco (IRBr) |
Programa: |
Diplomacia |
Autor: |
María Lúcia Suriano |
Titulação: |
Mestrado IRBr |
Ano de defesa: |
2011 |
Link: |
Não disponível |
Resumo: |
O presente estudo tem por objetivo analisar a evolução histórica das ideias e as políticas linguísticas na América Latina, com o fim de determinar a funcionalidade dos debates em torno à reforma ortográfica brasileira na redefinição identitária da subjetividade internacional do Brasil e sua projeção na nova estratégia de política exterior desenvolvida na virada do milênio em relação ao sistema de alianças. O trabalho está dividido em três partes correspondentes respectivamente ao marco teórico, aos antecedentes históricos, e à unidade americana. Cada uma das partes, por sua vez, divide-se em capítulos. O marco teórico se desdobra em dois capítulos. O primeiro, referente aos principais conceitos extraídos dos diversos campos envolvidos nesta perspectiva multidisciplinar. Trata-se em primeiro lugar de estudos de política internacional, onde se incluem as pesquisas de Amado Cervo, a teoria realista norte-americana, o conceito de interdependência de Kehohane e Nye, e finalmente o construtivismo na estruturação da identidade dos atores internacionais segundo Wendt. Consideram-se também estudos de política linguística, especificamente dentro da glotopolítica, onde se definem os principais conceitos que fazem parte desse conjunto das ciências da linguagem. Finalmente, mesmo dentro do campo da linguística, os estudos da análise do discurso. Abordam-se então, os trabalhos de índole geral de dois teóricos na matéria, Marc Angenot e Norman Fairclough. O segundo capítulo da primeira parte estabelece, ainda com base nos estudos da análise do discurso supracitados, as características estruturais e tópicas de uma matriz discursiva particular, própria das ideologias políticas modernas: a matriz discursiva da revolução, segundo dois paradigmas contrapostos que sustentam seja a persistência de uma ideologia religiosa prévia, seja o reconhecimento da mudança operada na modernidade. Decorre deles a ativação do discurso revolucionário como instrumento de luta política em duas ordens do discurso: o plano político e o plano religioso. Adicionalmente, os estudos específicos de Arnoux sobre as características particulares da matriz discursiva revolucionária própria das guerras da independência hispano-americana que incluem ideias sobre a unificação das suas nações. A segunda parte, correspondente aos antecedentes históricos das ideias e políticas linguísticas e a sua projeção política, divide-se também em dois capítulos. O primeiro capítulo corresponde aos inícios da Idade Moderna e ocupa-se dos mecanismos de legitimação das línguas vernáculas europeias nas funções linguísticas oficiais e administrativas até então reservadas para o latim. Analisa-se a ideologia implícita nesse processo e no sistema resultante. Assim, identifica-se uma matriz discursiva revolucionária pré-moderna, o discurso da libertação, junto aos relatos e as políticas em torno da língua. Em consequência, comprova-se um terceiro plano de ativação do discurso revolucionário: o plano linguístico. Identifica-se também a estruturação de um sistema hierárquico entre as línguas vernáculas e suas variedades vigente até hoje. Adicionalmente, resenham-se as preocupações em relação com a unidade linguística. Finalmente, estabelecem-se as diferenças que apresentam as metrópoles peninsulares no processo de imposição da língua do Estado no território europeu e a sua posterior implementação nos territórios ultramarinos, diferenças que derivaram em consequências específicas com respeito à unidade ou divergência linguística nas duas maiores regiões linguísticas latino-americanas: Hispano-América e Luso-América. O segundo capítulo trata da ativação da matriz discursiva revolucionária nos mitos fundacionais dos Estados americanos, com especial ênfase na comparação da Argentina no contexto hispano-americano e o Brasil como representante da lusofonia. Procura-se estabelecer um paralelismo comparativo no estudo da ativação da matriz discursiva da revolução nos planos político, religioso e linguístico em ambos os casos. Analisam-se especialmente os debates e as políticas em torno da ortografia nos dois espaços linguísticos, único plano onde se ativa simultaneamente essa matriz revolucionária. A terceira parte se ocupa tanto das ideias quanto da institucionalização efetiva em torno da unidade americana em três momentos históricos salientáveis que determinam a divisão em três capítulos. Em cada um deles se analisa a ativação ideológica da matriz discursiva revolucionária que originalmente idealizou essa unidade, e os seus modos de institucionalização efetiva nos planos político e linguístico. O primeiro momento histórico coincide com a instituição dos Estados nacionais americanos no século XIX, e se estende praticamente até fins do século XX. Nesse período, a unidade linguística hispano-americana cumpre funções de equilíbrio de poder em relação à unidade política pan-americana. O segundo momento corresponde à última década do século passado quando a unidade americana se continentaliza sob uma matriz discursiva hegemônica neoliberal que economiza as relações regionais. Nesse período aparecem campanhas de purificação e defesa da língua diante dos estrangeirismos com fins compensatórios em função da política interna e dos processos de reeleição. Finalmente, o terceiro momento corresponde à primeira década do novo milênio. Trata-se de uma década na qual o discurso revolucionário, próprio da memória da independência hispano-americana, é reativado para a conformação de alianças simétricas. Aqui, o debate em torno à reforma ortográfica brasileira ajuda a redefinir a identidade plasmada no mito fundacional. Em cada caso, é desenvolvida a relação entre as políticas linguísticas e a sua função na determinação das estratégias de política internacional e/ou nacional relacionadas com as diversas concepções dominantes em torno da unidade americana. |
Orientador: |
Maria Angélica Brasil Gonçalves Madeira |
Palavras-chave: |
Acordo Ortográfico; Comunidade Países de Língua Portuguesa (CPLP); Políticas linguísticas |